O anúncio do governo federal, em 25 de junho de 2025, de elevar a mistura obrigatória de biodiesel no diesel de 14% para 15% (B15), a partir de 1º de agosto, reacendeu um importante debate técnico sobre os impactos dessa política no setor de Transporte Rodoviário de Cargas (TRC). A decisão, tomada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), desconsidera uma série de alertas emitidos por entidades como a NTC&Logística e a Confederação Nacional do Transporte (CNT), que apontam efeitos adversos já constatados na operação diária das transportado.
Fonte: Elaborada pela autora, baseado em dados da CNPE, ANP, NTC&Logística e CNT
Analisando a evolução da adição de biodiesel no diesel entre 2016 e 2025, ilustrando o crescimento gradual do percentual da mistura de B7 até B15. Ele pode ser inserido diretamente no artigo como elemento visual da seção “Impactos Técnicos e Operacionais” ou no início como parte de um resumo visual.
1. Impactos Técnicos e Operacionais
Desde a implementação do B14, em março de 2024, transportadoras em todo o país relatam aumento nos custos operacionais, principalmente relacionados à manutenção preventiva e corretiva. Estudo da NTC&Logística demonstrou que a vida útil dos filtros de combustível foi reduzida pela metade, com aumento de mais de 7% nos custos de manutenção por veículo. Em termos práticos, uma frota com 100 veículos pode ter, ao longo de um ano, um acréscimo de custo equivalente à aquisição de um novo caminhão.
Além disso, há registro recorrente de panes e falhas mecânicas ligadas à contaminação e instabilidade do biodiesel, especialmente no momento em que o combustível chega às distribuidoras. A presença de impurezas e a tendência de formação de borra e cristais, sobretudo em regiões de clima frio, elevam o risco de paralisações e comprometem a segurança viária.
2. Consequências Ambientais e de Eficiência
Embora o biodiesel seja promovido como alternativa mais sustentável, estudos da UnB e da UFMG indicam efeitos contraditórios no uso prático. O aumento do teor de biodiesel está relacionado a:
Maior consumo específico de combustível (km/l reduzido);
Elevação das emissões de gases como CO₂ e NOx, especialmente em motores não adaptados;
Perda de torque e potência, afetando a performance dos veículos em trechos mais exigentes (como subidas de serra ou rotas com carga pesada).
Esses efeitos acabam por anular parte dos ganhos ambientais esperados, além de pressionar os custos operacionais das empresas transportadoras.
3. Pressões Econômicas e Cadeia Produtiva
A principal matéria-prima do biodiesel no Brasil é o óleo de soja. Com a elevação da demanda provocada pelo aumento da mistura, há um efeito cascata nos preços dos alimentos, pressionando ainda mais a inflação. Isso afeta tanto a competitividade do frete como o próprio custo de vida da população, num momento em que o país ainda busca estabilidade econômica.
Correlação entre aumento do Bx e preços do óleo de soja
4. Riscos ao Planejamento Logístico e à Confiança no Setor
Do ponto de vista da gestão de frota, o aumento da mistura obriga as empresas a reverem seus planos de manutenção, rotas e estoques de peças, além de intensificar a necessidade de treinamento de motoristas e mecânicos. Isso gera custos indiretos e aumento da complexidade logística, especialmente para transportadoras de médio e pequeno porte, que têm menor capacidade de absorver mudanças abruptas.
Há ainda o risco de quebra de confiança na política energética nacional, ao se promover uma mudança sem ampla discussão técnica com os setores diretamente afetados. Além disso, o aumento da mistura pode comprometer a previsibilidade operacional, especialmente para transportadoras menores.
Considerações Finais
É fundamental que qualquer avanço em políticas de biocombustíveis seja feito de forma gradual, técnica e dialogada. A transição energética é necessária, mas não pode ocorrer em detrimento da eficiência logística, da segurança viária e da sustentabilidade econômica das empresas que compõem a espinha dorsal do abastecimento no Brasil.